Sem máscaras



Eduardo Coutinho, nome de referência no documentário brasileiro, em seus trabalhos, nos ensina que a melhor maneira de se construir algo é utilizando a simplicidade, deixando o real falar por ele mesmo e, dessa forma, descobrimos que o real liberto é o que mais emociona e causa efeito direto no espectador, aproximando-o do que é produzido. E essa fórmula, ele aplicou no documentário Edifício Master, feito em 2002.

O documentário conta a história de vida de moradores de um edifício localizado em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, o Master. Filma-se cada detalhe do ambiente: corredores e os apartamentos de cada morador entrevistado, onde são feitas as entrevistas. Ao mesmo tempo em que sabemos que são comuns as histórias contadas e, iguais ao edifício Master, existem tantos outros super habitados, espalhados pelo país, nós, espectadores, nos envolvemos com as narrativas, a ponto de cada história se tornar única e incrivelmente interessante.

Essa sensação é atribuída à peculiaridade do trabalho de Eduardo Coutinho, de explorar a realidade e os depoimentos dos personagens, sem grandes investimentos. Essa é a grande estratégia do cineasta, que torna o documentário Edifício Master, um verdadeiro registro de vidas opostas que habitam o mesmo espaço, cada uma com sua característica. É um trabalho que se apega às diferenças sociais, aos múltiplos valores morais, problemas sentimentais diversos e sonhos ímpares, presentes em um só lugar.

Técnicas como o corte seco entre um depoimento e outro determinam o estilo do documentário. Entendemos que esse método teve como objetivo definir melhor onde cada fala termina e começa outra, ou seja, para conseguirmos nos desvencilhar de cada vida para só aí partirmos para a seguinte, ou de um mundo para outro, sem estabelecer relação entre eles. Uma organização que contribui para que cada história crie dependência e tenha sua própria importância.

Outra tática é o passeio que a câmera faz para apresentar o personagem por completo: aproximando de, por exemplo, partes do corpo do personagem (olhos, mãos, boca, etc) para “desnudá-lo” como pessoa na frente das lentes da câmera ou dando um panorama mais aberto do apartamento onde moram. As câmeras também mostram de fora, o trabalho da equipe, exibindo passo a passo, o que foi feito.

A relação dos profissionais com os moradores e o interesse do entrevistador em transmitir confiança para os entrevistados para que os depoimentos pudessem ser verdadeiros e estes se entregassem por inteiro, também foi passado para o espectador.O documentário é um verdadeiro estudo antropológico, já que o ser humano e a sua vida são as peças chaves da montagem. Eles (a equipe) conseguiram fazer com que cada pessoa, que antes era mais uma entre as muitas moradoras de um edifício enorme, fossem protagonistas, no sentido de que todos são marcantes, porque são dados a mesma importância e espaço para cada entrevistado.

Ao assistir Edifício Master, temos a certeza de que há várias maneiras de como contar a história e, dessa forma, temos que ter sensibilidade para escolher a melhor e, assim, conseguirmos fazer um belo trabalho. Uma escolha errada para conduzir a montagem, tornaria nosso trabalho indiferente dos outros ou até mesmo pobre, desperdiçando temas e personagens muito interessantes. O documentário é uma verdadeira aula cinematográfica, mostrando as melhores técnicas e ensinando que o ser humano tem um valor infinito e, ele sozinho, sem superficialidades, basta para que se construa um documentário primoroso.

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