Memórias de estudante
Ouvir. Prestar atenção. Interessar-se. Isso já faz com que o professor se solidifique na memória de um aluno. Nada demais, nada que exija títulos acadêmicos ou grande reputação. Só precisa enxergar o aluno. Vê-lo e entendê-lo. E professores assim passaram por minha vida escolar. A memória mais remota de sala de aula não está no lápis, na farda e no caderno. O que ficou foi a imagem da professora que, naquele período, início de tudo, era a pró.
Alfabetização, a aula acontecendo e o colega ao lado chorando. Derramando pelos olhos a tristeza de não poder ver mais o avô. E a pró parou de falar sobre as vogais e, olhando para cada pequeno, disse “Nós nascemos, crescemos e morremos. Lembram dos animais que pintamos ontem? O sapo, o leão... Todos vão morrer um dia, assim como a gente.” A professora conseguiu acalmar o colega e o desconforto dos outros, assustados com a situação. Ela nos fez entender como acontece e o que é a morte.
O mau professor talvez o mandaria para a direção. Ele entraria na sala fria e temida por ele e pelos colegas e ouviria frases feitas, sozinho. Mais tarde, em outro momento, eu chorei no início. Medo de ficar sozinha naquele colégio enorme aos olhos de uma pequena. E ouvi “Flavia, já deu né? Muitas crianças queriam estar no seu lugar, nesse colégio.” E só. Ela não era uma pró. Não me ouviu, não se interessou por mim.
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