Quando a fotografia passeia pela Bahia
O A gosto da Photographia volta ao cenário cultural baiano, agora com mais eventos do que o primeiro
Flavia Vasconcelos
O fotógrafo, sua obra e o grande público. Nada como juntar esses elementos, e torná-los intimamente interligados, favorecendo uma troca de impressões e conhecimento. É esse o objetivo do A gosto da Photographia ano II, promovido pela Casa da Photographia, começando a partir do dia 21 de julho até 31 de agosto. Um período intenso voltado para a fotografia, irá trazer tal arte como tema de discussão e apreciação, através de palestras, exposições e oficinas, difundindo sua linguagem para Salvador, Feira de Santana, Vitória da Conquista, Cachoeira e São Félix, todos ao mesmo tempo.
O primeiro A gosto da Photographia aconteceu em 2004 e contou com a parceria das principais galerias e museus da cidade, entre eles o Museu de Arte Moderna – BA (MAM). A idéia do projeto agradou o meio artístico baiano e causou impacto, por não ter na Bahia muitas iniciativas que investissem na fotografia, o que serviu de estímulo para essa segunda versão, agora de forma mais madura e com a grade de eventos reforçada.
Como se não bastassem as atividades programadas para o período, o A gosto da Photographia ano II realizará a campanha “Olhos que não Vêem”, o que garantirá a arrecadação de alimentos não perecíveis, que deverão ser doados no ato da inscrição para as palestras e exposições, tanto em Salvador quanto no interior do estado. Os alimentos arrecadados vão ser entregues à Aliança de Cegos, situada no Cabula, bairro de Salvador.
Vão ser em torno de 30 eventos, acontecendo nos mais de 20 espaços envolvidos, como palestras sobre antropologia e fotografia na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, com a abertura do professor doutor Etienne Saiman, da Universidade de São Paulo (Usp), exposições nas galerias do Instituto Goethe em Salvador, montadas pela Pinacoteca de São Paulo, Era uma Vez em Havana, com curadoria de Diógenes Moura, mostra do fotógrafo carioca Walter Firmo, no Centro Cultural Dannemann, em São Félix, entre outros.
O que o A gosto da Photographia ano II propõe é espalhar pela Bahia, a beleza da fotografia, toda sua dança de subjetividade e o que ela transmite. Segundo o fotógrafo Marcelo Reis, diretor da Casa da Photographia e coordenador geral do evento, os artistas e os espaços envolvidos se destacam nos circuitos artísticos baiano e nacionais: “Reunimos o que temos de melhor na nossa cidade e convidamos outros de igual importância. Todos imbuídos em propagar nossa fotografia pelos confins dos mais distantes olhares”, disse.
Para Reis, o alvo, ao elaborar esse projeto, era oferecer ao estado, um evento nos moldes dos já realizados em outras regiões do país, como em Brasília com o Foto Arte e no Rio de Janeiro com o Foto Rio, que tiveram contribuição significativa para o crescimento e fortalecimento da fotografia como arte, apresentando para a sociedade os olhares refinados dos profissionais envolvidos. Segundo o fotógrafo, a participação do Banco do Nordeste, patrocinador do evento, foi essencial para sua viabilidade, “muito mais do que por mero compromisso formal, mas por reconhecer a importância de ações regionais num país de tamanha dimensão”.
Entre os muitos eventos programados para o A gosto da Photographia ano II, está a exposição “Eu que fiz”, uma mostra da artista plástica e fotógrafa Giovana Dantas que, traz um recorte de um ensaio maior sobre a Parada Gay de Salvador, em 2005. O trabalho tem como tema principal a moda de rua, aquela extravagante, criada pelos próprios usuários. “O nome da exposição veio da pergunta que eu fiz para todos, naquele dia, Quem fez sua roupa, seu sapato? E eles diziam, com muito orgulho gay, Eu que fiz!”, explica a fotógrafa.
As fotografias do “Eu que fiz” possuem um enquadramento fragmentado. Na maioria das imagens, os rostos dos personagens não aparecem, se apegando às minúcias dos acessórios e das roupas de cores fortes e exuberantes. “A Parada Gay é um momento de muita alegria e é a ocasião que eles colocam a criatividade para fora. Eu quero mostrar detalhes de uma moda inventada por eles”, afirma. Posteriormente, os personagens e todo o trabalho vão ser apresentados em um ensaio completo sobre o tema, feito por ela e um grupo de profissionais da área.
Segundo a artista, o A gosto ano II será um momento de discussão sobre fotografia, divulgando ainda mais essa linguagem na cidade: “Propor um evento anual em Salvador com essa abrangência que o A gosto da Photographia está a cada dia alcançando, será muito bom. Vão estar presentes pessoas que trabalham com fotografia, que escrevem e falam sobre fotografia e, por isso é válido. Vamos ampliar horizontes”.
Fotografia baiana como arte contemporânea
Para o consagrado Henri Cartier-Bresson, fotografia é “um momento decisivo da transformação do fato em linguagem mítica”. Capturar um momento do mundo real e congelar esse tempo num papel fotográfico, já foi uma ação puramente objetiva, um simples registro do concreto, uma representação do meio que nos cerca. Porém, para o diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), Heitor Reis, “a incerteza do visível passou a fazer parte da obra fotográfica que, a partir daí, foi inserida definitivamente na arte contemporânea”.
Segundo ele, hoje o fotógrafo passa a sua mensagem para a obra, reproduz as suas impressões do mundo nas imagens, adentrando assim, na cena artística moderna, na qual “as linguagens se fundem, se apropriam uma das outras, as imagens são dúbias, os materiais diversos”, explica. Sobre isso, o fotógrafo Marcelo Reis considera que esse novo estilo da fotografia, que ele chama de forma decomposta, diz respeito à independência criativa, e alerta que “este fazer pede do seu produtor uma capacidade incontestável para saber fazer”.
Técnicas novas como tirar a câmera do nível do olho, capturar pessoas cortadas ao meio, focos em postos intermediários e imagens sem pontos de fuga, estão sendo cada vez mais utilizadas. Para Reis, não usar o equipamento de forma tradicional, possibilita ao fotógrafo maior espontaneidade: “Confere, em grande parte das situações, uma naturalidade magnífica na imagem capturada, principalmente pela dificuldade que normalmente temos de filtrar os sentimentos através do prisma do equipamento”. E são esses sentimentos que o profissional, atualmente, procura apreender nas suas fotografias, que transformam essa linguagem em arte contemporânea.
Câmeras largadas ao chão, cortes transversais e atitudes determinantes, representam uma fotografia que corresponde ao momento atual, um tempo de observar muito mais do que de agir. E, é acompanhando as inovações dessa arte, que a produção fotográfica baiana marca sua presença no meio artístico mundial.“Com o olhar livre para acompanhar o“ator”, podemos simplesmente apontar a câmera para ele, de um ponto qualquer, e disparar quantos fotogramas sejam necessários, até que nos sentimos certos de termos apreendido o nosso olhar”, explica Marcelo Reis.
De acordo com o diretor do MAM-BA, o estado vive um grande momento em todas as linguagens artísticas, incluindo principalmente a fotografia. Muitos fotógrafos baianos já alcançaram um lugar de referência, e hoje são clássicos mundiais. “A Bahia já tem uma tradição de grandes fotógrafos, como Mário Cravo Neto, que é um artista que não deve nada a nenhum outro fotógrafo do mundo”, comenta.
Com sua originalidade e características marcantes, a produção de fotógrafos baianos, tem um lugar garantido no altar das artes visuais. Isso poderia ser justificado até mesmo pela riqueza de temas que a própria Bahia oferece, para se produzir imagens. O povo e sua cultura popular são, pelo menos, dois motivos entre tantos outros, que, sob o olhar de um bom fotógrafo, explicam belas fotografias já produzidas.
Quanto ao mercado voltado para essa arte na Bahia, vê-se ainda uma necessidade de maior empenho e abertura para apresentar essa linguagem à população. Para Heitor Reis, “o estado ainda precisa de um trabalho maior a nível de mercado e do imaginário popular. Ainda falta um pouco valorizar a fotografia como uma obra, dentro de um espaço cultural”. Para uma linguagem que já alcançou um estágio significativo de arte contemporânea, nada mais coerente do que divulgá-la, principalmente, para o grande público baiano.
É para agitar o mercado artístico da Bahia, falando de fotografia e mostrando sua importância, como toda arte possui, que a Casa da Photographia “invade” as galerias do estado e os centros acadêmicos de produção do conhecimento, trazendo o A gosto da Photographia ano II. Um evento que, segundo o coordenador geral, Marcelo Reis, “é a parceria e participação das instituições privadas e públicas e de pessoas verdadeiramente engajadas em um único bem comum: o de popularizar a fotografia para torná-la acessível a todos”.
Flavia Vasconcelos
O fotógrafo, sua obra e o grande público. Nada como juntar esses elementos, e torná-los intimamente interligados, favorecendo uma troca de impressões e conhecimento. É esse o objetivo do A gosto da Photographia ano II, promovido pela Casa da Photographia, começando a partir do dia 21 de julho até 31 de agosto. Um período intenso voltado para a fotografia, irá trazer tal arte como tema de discussão e apreciação, através de palestras, exposições e oficinas, difundindo sua linguagem para Salvador, Feira de Santana, Vitória da Conquista, Cachoeira e São Félix, todos ao mesmo tempo.
O primeiro A gosto da Photographia aconteceu em 2004 e contou com a parceria das principais galerias e museus da cidade, entre eles o Museu de Arte Moderna – BA (MAM). A idéia do projeto agradou o meio artístico baiano e causou impacto, por não ter na Bahia muitas iniciativas que investissem na fotografia, o que serviu de estímulo para essa segunda versão, agora de forma mais madura e com a grade de eventos reforçada.
Como se não bastassem as atividades programadas para o período, o A gosto da Photographia ano II realizará a campanha “Olhos que não Vêem”, o que garantirá a arrecadação de alimentos não perecíveis, que deverão ser doados no ato da inscrição para as palestras e exposições, tanto em Salvador quanto no interior do estado. Os alimentos arrecadados vão ser entregues à Aliança de Cegos, situada no Cabula, bairro de Salvador.
Vão ser em torno de 30 eventos, acontecendo nos mais de 20 espaços envolvidos, como palestras sobre antropologia e fotografia na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, com a abertura do professor doutor Etienne Saiman, da Universidade de São Paulo (Usp), exposições nas galerias do Instituto Goethe em Salvador, montadas pela Pinacoteca de São Paulo, Era uma Vez em Havana, com curadoria de Diógenes Moura, mostra do fotógrafo carioca Walter Firmo, no Centro Cultural Dannemann, em São Félix, entre outros.
O que o A gosto da Photographia ano II propõe é espalhar pela Bahia, a beleza da fotografia, toda sua dança de subjetividade e o que ela transmite. Segundo o fotógrafo Marcelo Reis, diretor da Casa da Photographia e coordenador geral do evento, os artistas e os espaços envolvidos se destacam nos circuitos artísticos baiano e nacionais: “Reunimos o que temos de melhor na nossa cidade e convidamos outros de igual importância. Todos imbuídos em propagar nossa fotografia pelos confins dos mais distantes olhares”, disse.
Para Reis, o alvo, ao elaborar esse projeto, era oferecer ao estado, um evento nos moldes dos já realizados em outras regiões do país, como em Brasília com o Foto Arte e no Rio de Janeiro com o Foto Rio, que tiveram contribuição significativa para o crescimento e fortalecimento da fotografia como arte, apresentando para a sociedade os olhares refinados dos profissionais envolvidos. Segundo o fotógrafo, a participação do Banco do Nordeste, patrocinador do evento, foi essencial para sua viabilidade, “muito mais do que por mero compromisso formal, mas por reconhecer a importância de ações regionais num país de tamanha dimensão”.
Entre os muitos eventos programados para o A gosto da Photographia ano II, está a exposição “Eu que fiz”, uma mostra da artista plástica e fotógrafa Giovana Dantas que, traz um recorte de um ensaio maior sobre a Parada Gay de Salvador, em 2005. O trabalho tem como tema principal a moda de rua, aquela extravagante, criada pelos próprios usuários. “O nome da exposição veio da pergunta que eu fiz para todos, naquele dia, Quem fez sua roupa, seu sapato? E eles diziam, com muito orgulho gay, Eu que fiz!”, explica a fotógrafa.
As fotografias do “Eu que fiz” possuem um enquadramento fragmentado. Na maioria das imagens, os rostos dos personagens não aparecem, se apegando às minúcias dos acessórios e das roupas de cores fortes e exuberantes. “A Parada Gay é um momento de muita alegria e é a ocasião que eles colocam a criatividade para fora. Eu quero mostrar detalhes de uma moda inventada por eles”, afirma. Posteriormente, os personagens e todo o trabalho vão ser apresentados em um ensaio completo sobre o tema, feito por ela e um grupo de profissionais da área.
Segundo a artista, o A gosto ano II será um momento de discussão sobre fotografia, divulgando ainda mais essa linguagem na cidade: “Propor um evento anual em Salvador com essa abrangência que o A gosto da Photographia está a cada dia alcançando, será muito bom. Vão estar presentes pessoas que trabalham com fotografia, que escrevem e falam sobre fotografia e, por isso é válido. Vamos ampliar horizontes”.
Fotografia baiana como arte contemporânea
Para o consagrado Henri Cartier-Bresson, fotografia é “um momento decisivo da transformação do fato em linguagem mítica”. Capturar um momento do mundo real e congelar esse tempo num papel fotográfico, já foi uma ação puramente objetiva, um simples registro do concreto, uma representação do meio que nos cerca. Porém, para o diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), Heitor Reis, “a incerteza do visível passou a fazer parte da obra fotográfica que, a partir daí, foi inserida definitivamente na arte contemporânea”.
Segundo ele, hoje o fotógrafo passa a sua mensagem para a obra, reproduz as suas impressões do mundo nas imagens, adentrando assim, na cena artística moderna, na qual “as linguagens se fundem, se apropriam uma das outras, as imagens são dúbias, os materiais diversos”, explica. Sobre isso, o fotógrafo Marcelo Reis considera que esse novo estilo da fotografia, que ele chama de forma decomposta, diz respeito à independência criativa, e alerta que “este fazer pede do seu produtor uma capacidade incontestável para saber fazer”.
Técnicas novas como tirar a câmera do nível do olho, capturar pessoas cortadas ao meio, focos em postos intermediários e imagens sem pontos de fuga, estão sendo cada vez mais utilizadas. Para Reis, não usar o equipamento de forma tradicional, possibilita ao fotógrafo maior espontaneidade: “Confere, em grande parte das situações, uma naturalidade magnífica na imagem capturada, principalmente pela dificuldade que normalmente temos de filtrar os sentimentos através do prisma do equipamento”. E são esses sentimentos que o profissional, atualmente, procura apreender nas suas fotografias, que transformam essa linguagem em arte contemporânea.
Câmeras largadas ao chão, cortes transversais e atitudes determinantes, representam uma fotografia que corresponde ao momento atual, um tempo de observar muito mais do que de agir. E, é acompanhando as inovações dessa arte, que a produção fotográfica baiana marca sua presença no meio artístico mundial.“Com o olhar livre para acompanhar o“ator”, podemos simplesmente apontar a câmera para ele, de um ponto qualquer, e disparar quantos fotogramas sejam necessários, até que nos sentimos certos de termos apreendido o nosso olhar”, explica Marcelo Reis.
De acordo com o diretor do MAM-BA, o estado vive um grande momento em todas as linguagens artísticas, incluindo principalmente a fotografia. Muitos fotógrafos baianos já alcançaram um lugar de referência, e hoje são clássicos mundiais. “A Bahia já tem uma tradição de grandes fotógrafos, como Mário Cravo Neto, que é um artista que não deve nada a nenhum outro fotógrafo do mundo”, comenta.
Com sua originalidade e características marcantes, a produção de fotógrafos baianos, tem um lugar garantido no altar das artes visuais. Isso poderia ser justificado até mesmo pela riqueza de temas que a própria Bahia oferece, para se produzir imagens. O povo e sua cultura popular são, pelo menos, dois motivos entre tantos outros, que, sob o olhar de um bom fotógrafo, explicam belas fotografias já produzidas.
Quanto ao mercado voltado para essa arte na Bahia, vê-se ainda uma necessidade de maior empenho e abertura para apresentar essa linguagem à população. Para Heitor Reis, “o estado ainda precisa de um trabalho maior a nível de mercado e do imaginário popular. Ainda falta um pouco valorizar a fotografia como uma obra, dentro de um espaço cultural”. Para uma linguagem que já alcançou um estágio significativo de arte contemporânea, nada mais coerente do que divulgá-la, principalmente, para o grande público baiano.
É para agitar o mercado artístico da Bahia, falando de fotografia e mostrando sua importância, como toda arte possui, que a Casa da Photographia “invade” as galerias do estado e os centros acadêmicos de produção do conhecimento, trazendo o A gosto da Photographia ano II. Um evento que, segundo o coordenador geral, Marcelo Reis, “é a parceria e participação das instituições privadas e públicas e de pessoas verdadeiramente engajadas em um único bem comum: o de popularizar a fotografia para torná-la acessível a todos”.
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