Porque eu escrevo ou Ensaio sobre mim mesma


Escrever é mesclar criatividade e os sentidos. Todos. Os do corpo físico e de alma... Por isso às vezes credito à minha facilidade , e mais ainda, à vontade de escrever, ao que cultivei e ao que cultivaram em mim.

Das cores das tintas pinceladas nos quadros que minha mãe sempre pintou, dos livros coloridos que grudavam em mim, enquanto outras crianças carregavam, a tira colo, ursos de pelúcia, barbies ou minivideogames, eu devo ter sugado criatividade. Os sentidos se desenvolveram, talvez, pela insegurança que carrego, agora em menor proporção. Sentir o que o outro transmite, além de captar o cheiro, o gosto, as cenas e a textura do que me cerca, seja de objetos ou de pessoas, me faz mais segura. Me permite saber por onde e com quem convivo. Essa talvez seja a explicação para o tipo de linguagem que utilizo.

Agora o porque que eu escrevo, ainda não consegui compreender. Talvez eu queira mostrar a minha arte, escondida atrás da caneta, do papel, do computador. Afinal, nem sempre os outros lêem o que escrevo enquanto estou presente... E, dessa forma, continuo na minha zona de conforto. Como agora. Agora percebo a contradição que carrego em mim. Sou tímida ao me expor, mas adoro me exibir na escrita. Adoro ser admirada pelo que produzo, mas só quando tenho certeza de que o produto é realmente merecedor do elogio. Porque sim. Às vezes eu escrevo sem tanta profundidade sentimental. Ingrediente que é o tempero único e responsável pelo meu trabalho. Mas, na grande maioria das vezes, eu transbordo sentimento.

Costumo dizer que primeiro eu fecundo a história (ou estória), e fico grávida dela. Ela germina, se desenvolve dentro de mim e então nasce. Penso que já tenho conseguido dosar a carga emotiva. No lugar da pieguice, me falam ( e eu mesma sei) estão a meiguice e a elegância. Será que ter esta certeza me atrapalha? É vaidade demais? Talvez... Mas eu me imunizo desta vaidade ao trabalhar manualmente o meu texto, como se fizesse uma escultura de barro. Eu construo passo a passo, sofro (um sofrimento prazeroso), movimento a minha energia para que a elegância e a meiguice, que chamo de cuidado e respeito à minha pauta, se façam presentes.

A vaidade é resultado do trabalho. E pensar dessa forma me conforta. Não tenho medo de saber e ter certeza da minha qualidade profissional. Não tenho medo de parecer soberba. Então eu escrevo por quê? Porque gosto de expor a minha interpretação sobre a realidade. E mais, quando eu faço um perfil de uma pessoa bonita (ou seja, aquela que irradia coisas boas por onde passa), procuro valorizá-la ainda mais. É como já ouvi de uma pessoa muito querida: Transformo plebeu em príncipe. Então ai está mais uma justificativa para o fato de eu escrever. Além da vaidade, gosto de incentivar pessoas bonitas a continuarem sendo como são. Gosto de fazê-las felizes. E isso tem acontecido. Que bom.

Comentários

Camila. disse…
Não interpreto como vaidade, mas, se for, é bem-vinda. É merecedora. Você escreve muito bem. Interpreta os seres e lugares, faz uma leitura íntima de tudo o que parece invisível às pessoas distraídas. Você lê as almas, no sentido do que anima as vivências. Acho sim que sugou criatividade. Junto com suco de uva.

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