Lentes de dentro
O sol estava aceso. Quente. Mas a sensação térmica era outra. Um pouco fria. Muito burburinho. Cafés, talheres, risadas. Mas o som do violino era o protagonista. O homem grisalho, nariz grande e irradiando simpatia, prendia a minha atenção. Nas mãos dele um violino. Instrumento hipnotizador do seu trabalho.
Quando viajamos, as cenas passam a ter mais valor. Passam a simbolizar tudo que desejamos e temos de bom dentro da gente. Se temos uma saudade, certamente encontraremos algo ou alguém por onde passamos, que nos faça lembrar dela. Se desejamos paz ou descanso interior, selecionamos o que vai nos trazer o que queremos. Tudo fica mais proeminente. Como uma tela em alto relevo.
O violino, por exemplo, ou melhor, o homem grisalho e o violino. Dupla perfeita. Embora estejamos afastados, sentados em cadeiras com amigos, conversando, o som do violino se destaca. Como na foto, o homem e o violino em primeiro plano, e a mulher, de óculos, com expressão de falante, no fundo. Talvez, na realidade, o homem e o violino estejam em um canto, sentados, ou no fundo, afastados. Mas o meu olhar de viajante os traz para frente e capta a imagem distorcida, com lentes de dentro. De turista, de forasteira.
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