Dez anos do fatídico 16 de maio

Como jornalista e estudante do ensino médio na época, considero importante lembrar aos nossos leitores que hoje, 16 de maio, é uma data que marca a história política e social de Salvador, pois exatamente há 1o anos , durante manifestações que pediam a cassação dos então senadores Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), morto em 2007, e José Roberto Arruda (PSDB na época), a Polícia Militar invadiu o campus de Direito da Universidade Federal da Bahia (Ufba), com bombas de gás e agrediu dezenas de estudantes.

Na época, em 2001, eu era estudante do 1º ano do ensino médio do Colégio Marista, e consigo hoje, rever na memória aquele momento. Após saber pela mídia, e por amigos, que o Conselho de Ética do Senado tinha acabado de pedir a abertura do processo de cassação dos dois senadores, por terem sido acusados de violar o painel eletrônico de votação durante a cassação de Luiz Estevão, cheguei a mais um dia de aula e encontrei uma movimentação atípica no grêmio. No dia anterior, dia 16, houve a 1ª grande passeata na cidade pedindo a cassação dos senadores. Uma passeata transformada em guerra e autoritarismo. A ideia dos estudantes era driblar a repressão policial e, pela Faculdade de Direito da Ufba, chegar até a casa de ACM, na Graça. Lá, fazer um protesto legítimo e democrático. Porém, a polícia “correu atrás do prejuízo” e mesmo diante de um Mandado Judicial expedido pela Justiça Federal, a PM, sob a ordem da secretária de Segurança à época, Kátia Alves e do governador César Borges, do mesmo partido do senador baiano em vias de ser cassado, invadiu as dependências da Faculdade de Direito, com bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha, gás de pimenta e agrediram fisicamente e moralmente os estudantes.

Eu não participei desta primeira iniciativa dos estudantes, que acabou neste absurdo. Por sinal, esta ação ilegal que feriu os estudantes e violou o território da Ufba (nunca feito nem mesmo durante a Ditadura) foi propagada na mídia nacional e criticada veementemente pela opinião pública. Chegando na escola no dia seguinte e vendo a movimentação do grêmio, fiquei atenta. Estavam se reunindo para fazer parte da 2ª grande passeata que estava marcada para acontecer naquela manhã, dia 17. A sensação que eu tinha era de que o vacilo de ACM no escândalo do painel era mais um motivo e uma valiosa oportunidade para conseguir tirá-lo da política. Ou seja, só o fato da violação do painel em si não foi o único estímulo para que eu me indignasse. Este fato era mais uma brecha para uma luta bem maior.Uma luta pela renovação de uma cidade onde tudo era possível. Onde uma ordem seria mais importante do que a lei e o povo ficasse a mercê de interesses pessoais.

Resultado, sai da escola com uma colega, em direção a 2ª passeata, que agora estava sob o olhar de todo o Brasil. Após as imagens da invasão da PM serem disseminadas e criticadas, nada fora da legitimidade poderia ocorrer. Vi muitos estudantes. E a maioria de escolas públicas e da Universidade. Também encontrei líderes políticos de partidos de esquerda, movimentos sociais, sindicalistas, todos fazendo barulho na região do Vale do Canela e Graça. O destino continuava o mesmo: chegar a casa do então senador ACM e protestarmos democraticamente pela sua cassação e a de Arruda. Me vi no meio de milhares de pessoas que faziam questão de revelar a verdadeira relação de ACM com a Bahia. E não era de amor, como ele dizia. E ai sim, no dia seguinte ao fatídico 16 de maio de 2001, conseguimos lavar a calçada do edifício Stella Mares, morada do senador à época que, diante das provas concretas de que ele, e Arruda tinham mesmo violado o painel eletrônico e o sigilo de votos de parlamentares, renunciou ao cargo. Lavamos a calçada, como se estivéssemos renovando o país. Pedindo uma política limpa e transparente.


*Texto publicado originalmente no site À Queima Roupa.

Comentários

Jane disse…
Obrigada filha por colocar nas palavras, de forma exata sem ser ferina, o sentimento de muitos que viveram aquele momento e não souberam expressar a vontade de mudança, o grito contido por alguns e aqui você revela. Foi vivido e deve ser lembrado!

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