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Mostrando postagens de março, 2011

Memórias de estudante

Ouvir. Prestar atenção. Interessar-se. Isso já faz com que o professor se solidifique na memória de um aluno. Nada demais, nada que exija títulos acadêmicos ou grande reputação. Só precisa enxergar o aluno. Vê-lo e entendê-lo. E professores assim passaram por minha vida escolar. A memória mais remota de sala de aula não está no lápis, na farda e no caderno. O que ficou foi a imagem da professora que, naquele período, início de tudo, era a pró. Alfabetização, a aula acontecendo e o colega ao lado chorando. Derramando pelos olhos a tristeza de não poder ver mais o avô. E a pró parou de falar sobre as vogais e, olhando para cada pequeno, disse “Nós nascemos, crescemos e morremos. Lembram dos animais que pintamos ontem? O sapo, o leão... Todos vão morrer um dia, assim como a gente.” A professora conseguiu acalmar o colega e o desconforto dos outros, assustados com a situação. Ela nos fez entender como acontece e o que é a morte. O mau professor talvez o mandaria para a direção. Ele ent

Riachão, o malandro pop da Bahia

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Em entrevista com Riachão, na Praça 2 de Julho, no Campo Grande. “O samba pra mim é Deus. Deus é a música e a música é o samba.”, é o que ele acredita .

Sidney Carvalho: em cada samba, um enredo...

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Ele é filho das escolas de samba que desfilavam pelo centro de Salvador, anos atrás. Duas delas, Cacique do Garcia e Grande Família , que saíam do bairro do Garcia, local onde nasceu e vive até hoje, fizeram parte de sua infância, assim como da de muitos soteropolitanos que viveram carnavais com samba-enredo, famílias reunidas, mascarados nas ruas, carros alegóricos… Tradição. E ele estava lá, acompanhando tudo de perto com o seu tio, que era presidente de escola de samba, cargo de muitas responsabilidades e fonte de muitas alegrias também. Por isso tudo, ele cresceu e tornou-se um compositor de sambas. Sambas-canções e sambas-enredos que falam sobre as memórias de tempos bons que marcaram a sua vida. “Só escrevo sobre boas lembranças. As ruins eu não guardo pra mim”, esclarece Sidney Carvalho, 40 anos, dono de uma simpatia contagiante, a qual lhe confere muitos amigos por onde passa. O corpo grande, mãos fortes, voz firme, com timbre alto e imponente contradizem com a delicadeza que

Infinito

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Uma chance

Novo. Tudo era novo naquele tempo. A sua idade e o que vinha pela frente. Outro país, novas pessoas ao redor, outra língua, outra cultura, outro mundo. Apesar da novidade optou por registrar a sua presença naquele país em formato de antiguidade. Cartola, bengala, e a imagem em cor de sépia. Tinha 15 anos, mas com alma de lord . Lord dos filmes antigos, em preto e branco, trilha sonora especial, diálogos bem trabalhados. Queria registrar a novidade ali presente na sua vida, também numa roupagem diferente, talvez vestido como sempre quis, mas nunca pode. Afinal tinha 15 anos, vivia no Brasil, e não em um filme antigo. Estava feliz, realizado. No lugar que sempre sonhava estar e vestido como sempre quis estar vestido. Os seus desejos estavam se realizando. Desejo de adolescente, mas que marcou a sua vida. Hoje adulto, ainda guarda a foto que registrou, talvez, o seu verdadeiro eu. Um lord, de cartola e bengala, rodeado de lembranças.

Lentes de dentro

O sol estava aceso. Quente. Mas a sensação térmica era outra. Um pouco fria. Muito burburinho. Cafés, talheres, risadas. Mas o som do violino era o protagonista. O homem grisalho, nariz grande e irradiando simpatia, prendia a minha atenção. Nas mãos dele um violino. Instrumento hipnotizador do seu trabalho. Quando viajamos, as cenas passam a ter mais valor. Passam a simbolizar tudo que desejamos e temos de bom dentro da gente. Se temos uma saudade, certamente encontraremos algo ou alguém por onde passamos, que nos faça lembrar dela. Se desejamos paz ou descanso interior, selecionamos o que vai nos trazer o que queremos. Tudo fica mais proeminente. Como uma tela em alto relevo. O violino, por exemplo, ou melhor, o homem grisalho e o violino. Dupla perfeita. Embora estejamos afastados, sentados em cadeiras com amigos, conversando, o som do violino se destaca. Como na foto, o homem e o violino em primeiro plano, e a mulher, de óculos, com expressão de falante, no fundo. Talvez, na realida