Banda Est'Outros. Recriando, construindo, vivendo...




Elinaldo Nascimento tem o celular rosa, os cabelos trançados com linhas coloridas, a alegria do amarelo e o cintilante da amizade. Jal Gonçalves é guiado pelo vermelho, azul e branco, cores do seu tão amado Bahia (ou Bahêa como é mais conhecido o time de futebol baiano). Emile Lapa traz as cores da africanidade, o verde, amarelo, vermelho e preto e Lucy Castro… Bom, ela traz a feminilidade do rosa e todas as cores que brilhem, que sejam fortes e que marquem presença. Todos eles juntos, refletindo as suas cores, formam o Est’Outros (composto também por Daniel Neto e Dinny Sampaio), grupo musical baiano, formado por atores e músicos, que não se preocupa em se definir, em se limitar. Eles produzem arte e colocam alma no que fazem, afinal, como disse o mestre Chico Cesar, “a alma não tem cor, ela é colorida, ela é multicolor.”

Esse arco íris vindo de cada um representa a diversidade. Esta sim definiria o Est’Outros. Eles são pagodeiros, arrocheiros, bossanovistas, mpistas, sertanejos… e além disso, levam a arte de atuar para os palcos. “Nós somos uma salada musical e tentamos brincar com a melodia brasileira, trazendo o nosso tempero. Mas não é ecletismo pueril, essa mistura aconetce porque não somos únicos, nós mudamos no dia a dia”, é o que diz Jal, ao traduzir o grupo. Eles são “tão eles” que nem me atrevo a perguntar quais as referências musicais do grupo. As referências, pelo que senti e observei ao ouvi-los falando sobre eles e cantando, vêm da mudança diária de cada um, da transformação interna dos gostos, conhecimento e comportamento que dizem sofrer continuamente. As referências estão num imenso caldeirão, que guarda um caldo de tudo do que eles já viram e ouviram até hoje. Amanhã, este caldo será outro.

De onde vem o Est’Outros, e o que ele oferece?

Só uma certeza pode ser dita e reproduzida para sempre: Luís de Camões, o poeta português, é a matriz do grupo. Daí, inclusive, é que vem o nome Est’Outros. Uma homenagem ao poeta que foi objeto de pesquisa durante uma oficina literária, iniciada em 2002, na região de São Caetano, bairro de Salvador, da qual alguns integrantes participavam e de onde resultou o grupo. “Nós quisemos ir além do papel”, explica Jal. No repertório do Est’Outros, além de composições de Elinaldo e parceiros, estão presentes poesias de Camões que aparecem musicadas, aproximando do público os clássicos da poesia mundial. Os recitais também entram na salada artística oferecida ao público, e esta parte fica por conta de Jal, o sociólogo de profissão. Mas por que Camões? “Porque ele deu voz a muita gente, e era um desbravador e a gente procura fazer isso também”, responde Lucy.

Política social também move o grupo

A relação Portugal – Brasil e o resto do mundo, destacada pelo grupo também se justifica quando a nova realidade política e social é analisada. O fato do Brasil, antes colonizado, agora ser emergente e passar a influenciar o ex-colonizador, chama atenção do Est’Outros. Significa, para o grupo, que estamos em um novo momento, visto que os explorados agora estão em uma posição mais dominante. Ao que parece o Est’Outros chegou para questionar, para inverter a ordem do que está por ai, ou, ao menos, para mostrar aqui e do outro lado do oceano que as coisas mudaram. E Camões não escapou deste propósito, porque ele também é posto a prova. “Nós que ditamos o ritmo da poesia de Camões”, afirma Lucy.

O grupo Est’Outros começou a ganhar forma em 2003 e, de la pra cá, já teve várias formações. Hoje as coisas começam a ficar mais claras e maduras, os planos futuros e o caminho a ser percorrido. A identidade está quase formada. “E quando estiver tudo estabelecido, tudo definitivo, nós nos recriamos!”, brinca Jal, acentuando a personalidade inventiva e desapegada do grupo.

Contatos do Est’Outros:

www.wix.com/bandaestoutros/br

www.bandaestoutros.blogspot.com

bandaestoutros@gmail.com

(71) 8779-4769 (Lucy Castro) e (71) 8839-7894 (Elinaldo Nascimento)


*Texto publicado originalmente em www.aqueimaroupa.com.br. Foto de Mariana Campos.

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