Pílulas diárias de alegria

Passar nos mesmos lugares todos os dias e quase nos mesmos horários tem as suas vantagens. Cria-se vínculos com pessoas que não sabemos o nome, origem, gostos... Mas de tanto "encontra-las", acompanhamos a rotina, o humor, a roupa do dia... E quando esses encontros são pela manhã, o vínculo é ainda maior, por ser o início de um novo dia. Compartilhamos de longe a preguiça matinal, a força renascendo para cumprir mais uma batalha diária. "Bom dia! Vamos nessa, a gente consegue!" , nos falamos de longe, um para o outro, pelos olhos.

Falo isso tudo porque é o que eu tenho vivido. Minha vida foi arrebatada por regras e horários a cumprir. No início, é duro... parece que estamos sendo engolidos, ou amarrados em cada perna e braços, como se fôssemos uma marionete, e agimos e nos movimentamos sob a ordem da rotina. Mas ai, foi observando ao redor, que comecei a enxergar as partes boas dessa mudança. Saindo de casa pela manhã, sempre no mesmo horário, e passando pelos mesmos lugares, já cultivei amigos. Que viraram amigos só de longe. Se não amigos, companheiros. Parceiros do dia. Porém, o que me chama mais atenção e me faz sorrir ao volante, é quando encontro os mesmos guris indo para a escola. Ah! É incrível! É lindo!

Em especial, sempre encontro com um garotinho e uma garotinha, em partes diferentes do meu trajeto. Ela, acompanhada do irmão (protetor, ao que parece), é uma linda menina de, aparentemente, quatro anos. Sempre de rabo de cavalo, com a fardinha do colégio, e mãos dadas com o irmão, sobe a íngreme e cansativa Ladeira do Funil - que liga o bairro de 7 portas ao Barbalho - com um sorriso enorme no rosto! Uma danadinha, de cabelos impecavelmente presos (talvez penteados pela mãe), que sai distribuindo doçura por aquele lugar tão movimentado, onde o fluxo de carros e pessoas é enorme, pela manhã. Ao subir a ladeira, ela é cumprimentada pela moça que vende jornal, e a retribui sempre com uma gargalhada gostosa, e segue seu caminho, acompanhada do irmão. E eu, fico do carro, olhando a mocinha, e sorrindo sozinha, por causa dela.

Mais a frente, depois de passar pelo Dique do Tororó, encontro ele que, de tão lindo, me tira o fôlego! O pirralhinho, que parece ser um pouco mais novo que a princesa da Ladeira, adora usar acessórios! E, cá pra nós, sempre com um número maior! O boné na cabeça, que ele fica segurando, talvez para não perder, encobre um pouco o seu rosto, e às vezes, empata a visão daqueles olhinhos alegres. O que não é um problema para o miúdo ... porque ele se sente o rei! Quando não é o boné, ele usa um relógio, que samba no bracinho fininho de criança, e que parece ser um daqueles super modernos, cheios de funções. Ai o pequeno fica exibindo o braço, suspendendo-o, balançando-o, todo serelepe! Uma figura super engraçada e encantadora... Ele sempre passa, de mãos dadas, com uma mulher, que eu não sei se é mãe ou irmã, porque é muito jovem. E o mais engraçado: enquanto ela anda no seu passo de adulto, ele tenta acompanha-la, com as suas perninhas curtas... ou seja, ele é quase arrastado! E eu, mais uma vez, me pego sorrindo, e morrendo de vontade de, um dia, abraçar e conversar com aquele serzinho tão divertido.

Resolvi escrever sobre o assunto, porque hoje, vindo para o trabalho, os pequenos me pareceram ainda mais encantadores! Sorriam mais, estavam ainda mais crianças. E me deixaram assim... transbordando de paz.. talvez seja esse o sentimento que me visita. Eu fico em paz, leve... pronta para tirar de letra a rotina que me invadiu.

Comentários

Kassia Nobre disse…
Que lindo Fau! Imaginei a cena todinha na minha cabeça..Adorei os detalhes captados por seu olhar, como sempre!

bjos
Obrigada! A admiração é recíproca, sabe disso!

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